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A VOZ DO CÁRCERE
SINOPSE
“Há muita gente que diz: vamos investir na cadeia porquê? Eles são Presos; cometeram crime; então que paguem! Olhar para estabelecimento prisional como estando distante de nós, é um grande erro de percepção. A prisão é uma instituição pública, como um hospital ou uma escola, onde um cidadão, seja qual for o seu estatuto, pode entrar a qualquer momento. não é fácil compreender esta verdade, quando não és tu, nem o teu filho, ou teu pai. Mas no dia em que a sorte te faltar e caires dentro destas paredes – começas a reconhecer a necessidade de investir na prisão”.
Benvinda Leví. Antiga Ministra da Justiça.Após a minha detenção aqui na cidade de Maputo, tive o primeiro abalo psicológico por causa das condições da própria esquadra. Um lugar sujo não adequado para alguém poder habitar. Logo naquela semana surgiram muitas questões dentro de mim, afinal era a primeira vez que era detido na minha vida e não sabia o que se passava no interior de uma esquadra. tirei as minha conclusões e acabei generalizando que uma esquadra é um lugar não adequada para alguém estar.
A voz do recluso 31 anos de idade.
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BALADA DE AMOR AO VENTO
SINOPSE
Nesta viagem farta de sinuosas emoções, que levam à lua sem voo, há duas justificativas de ordem espiritual para toda uma trajectória que se queira literalmente linda. A primeira empurra-me àquela que considero melhor carta do Apóstolo Paulo, para não dizer melhor das sagradas escrituras, o Coríntios. Paulo refere, aos 1 Coríntios 7:32-36, que casar não é mau mas ser solteiro é melhor. Ambas opções são vocações do Homem porém o que optar pelo celibato deve dedicar sua vida ao senhor. Entretanto, Sarnau, uma esbelta negra que adorava sazonalmente as paisagens das matas de Mambone, dissuadira sedutoramente Mwando, um aspirante padre. Mwandro, que reputava Sarnau como inalcançevel por esbanjar graça e perfeição, não resistiu ao assédio. Fitou os olhos nela, perdeu o juízo e foi expulso do semanário.
Afinal a expulsão de Mwando, à partida, era uma premonição à mescla de dessabores que viriam caracterizar o quotidiano de Sarnau. Um castigo divino por interferência e desvio de um propósito sagrado.
A segunda justificativa desta encarquilhada trajectória remete-me ao sentido tradicional do ente africano. À semelhança de Mr. Bow que se socorre de um romance, em Guilhermina, para fazer crítica social, referindo-se à precária vida que um cidadão pacato, Paulina Chiziane socorre-se de uma estória de amor para introduzir o assunto da Poligamia que, a posterior, vira a ser destrinçado em Niketche. O clímax do “Amor ao Vento” ecoa a partir do rei polígamo, degenerando ao adultério. Paty, uma menina que teve que encarnar a alma de uma das concubinas do rei para cessar as enfermidades espirituais malignas que a fustigavam, é a obra que resultou do adultério protagonizado por Sarnau e Mwando.
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NGOMA YETHU O curandeiro e o novo testamento
SINOPSE
“De que modo os diversos sistemas implantados pela dominação colonial criaram condições para a emergência de uma atitude de autêntica auto-colonização mental por parte do africano que, já independente, continua, por si mesmo, a reproduzir os modelos de que dominação e de esvaziamento cultural outrora impostos? Eis a grande questão que atravessa o presente livro de Paulina Chiziane e Mariana Martins.”
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NIKETCHE Uma história de poligamia
SINOPSE
Rami, casada há vinte anos com Tony, um alto funcionário da polícia, de quem tem vários filhos, descobre que o partilha com várias mulheres, com as quais ele constituiu outras famílias. O seu casamento, de «papel passado» e aliança no dedo, resume-se afinal a um irónico drama de que ela é apenas uma das personagens. Numa procura febril, Rami obriga-se a conhecer «as outras». O seu marido é um polígamo! Na via dolorosa que então começa, séculos de tradição e de costumes, a crueldade da vida e as diferenças abissais de cultura entre o norte e o sul da terra que é sua, esmagam-na.
E só a sabedoria infinita que o sofrimento provoca lhe vai apontando o rumo num labirinto de emoções, de revelações, de contradições e perigosas ambiguidades. Poligamia e monogamia, que significado assumem? Cultura, institucionalização, hipocrisia, comodismo, convenção ou a condição natural de se ser humano, no quadro da inteligência e dos afectos? Paulina Chiziane estende-nos o fio de Ariadne e guia-nos com o desassombro, a perícia e a verdade de quem conhece o direito e o avesso da aventura de viver a vida.
Niketche, dança de amor e erotismo, é um espelho em que nos vemos e revemos, mas no qual, seguramente, só alguns de nós admitirão reflectir-se.
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O SÉTIMO JURAMENTO
SINOPSE
[…] «Faças uma substituição breve; esqueça a secretária do David, a Cláudia. Tome a Vera pala mãe do Pável, Mikhail por David e Clemente por Pável. Temos aqui um cruzamento tanto das lutas das duas mulheres como também o ideal socialista que fundamenta a Primeira República de 1975 distanciando-se, como é óbvio, pela luta de Samora contra as tradições como o grau da modernidade industrial que se conjuga aos campos de reeducação do Niassa. Veja como o Lourenço, o amigo de David e ele próprio demarcam o dualismo pós-independência: a modernidade e a tradição. O primeiro que vive os meandros da segunda e, o segundo que se distancia desse reduto para assumir a negação com proporções negativas nos anos da revolução». «mas, Dinho…», gaguejei. No momento estávamos a cruzar a Salvador Alende para depois subirmos por uma avenida que nos levaria a uma paragem junto a um ninho de lixo. Tomamos de seguida uma ruela que conhecia dos tempos de trabalhos por aquelas bandas. O sol já ido, a cidade começava a respirar a náusea da modernidade invocada para o homem novo. Esticou a mão e segurou-me dizendo: «não compreenderás o Sétimo juramento fora destes pequenos nadas; […].
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VENTOS DO APOCALIPSE
SINOPSE
Guerra. Destruição. Miséria. Sofrimento. Humilhação. Ódio. Superstição. Morte.
Este é o cenário dantesco, boscheano, que encontramos nas páginas de Ventos do Apocalipse. As palavras fortes, cruas, incisivas, dilacerantes e delirantes da autora levam-nos a questionar-nos quanto de ficção existirá no realismo das descrições deste palco apocalíptico em que a guerra mais aberrante será talvez a de dois povos, os mananga e os macuácua, colocados entre dois fogos e não sabendo quem os defende e quem os ataca.
Paulina Chiziane é uma contadora nata de estórias. Consegue levar-nos ao âmago do mais baixo dos mais baixos degraus de degradação do ser humano. Com ela percorremos as vinte e uma noites de pesadelo e tormentos que foi o êxodo dos sobreviventes de uma aldeia. Através dela aprendemos a respeitar Sixpence, tornado o herói simbólico, emblemático, e líder venerado desses fugitivos.